sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sem título

"Esquece isso. Esquece essa história. Não me estás a ouvir..", dizias tu.
"Posso chorar, posso rir, posso gritar, posso fazer tudo, que nunca me ouvirás.", continuavas.

(Sinto o frio arrepiar-me a espinha, todos os dias. Mesmo nos mais quentes de verão.
É uma ideia sórdida, concordo.Mas realista.
Sinto-me preso num corredor de paredes brancas que ofuscam a vista, cheio de portas fechadas, e que nenhuma destas me dá acesso á porta de saída.)
"Gostava tanto de poder respirar ar puro.. Tão puro que me poria a tossir feito estúpido", pensava eu.

(Seria uma espécie de metro?
Alguém berrou : "Por aqui!"
Eu limitei-me a seguir. Tudo, porque não passava de um sonho e tinha um desejo gigante de te encontrar.
Havia pessoas lá. Ou achava que eram.. porque eram vultos. Apareceram do nada. Como se tivessem no ponto invisível e surgissem de repente.
Queriam que me fosse embora. Dava para reparar pelos olhares. Sentia-se no ar, acreditem.
Parecia que se tinham incomodado por eu estar a escrever e a olhar admirado por não conhecer o lugar. Ou estariam incomodados por ainda ter sentimentos e por estar dar uma abanadela com uma caneta? São uns invejosos.
Saí a cambalear, sem motivo aparente. Talvez tenha sido da conversa que o meu inconsciente está a ter neste momento com alguém na minha vida real.
E só pensava em encontrar-te e fugir. Era uma boa alternativa, se alguma vez te conseguisse encontrar.
Queria ouvir uma voz meiga. Sentir uma presença.)

Uma ténue passagem, fez-me sentir o contrário do que sentia.
Parecia que jorrava sangue por todo o lado, as minhas pernas e braços mal se mexiam e minha cabeça parecia um fardo demasiado grande para o meu pescoço.
Sentia-me fraco, pensava eu enquanto ouvia muitas palavras seguidas com alguma distorção, entre elas: "...Acordar...", "...levanta-te..." , "...despertador...", e eu nem ligava pevas.
Levantei-me com dificuldades e muito rapidamente para acalmar a dor e para ignorar quem quer que me tivesse interrompido o meu sonho.
Estava pouca, mas demasiada gente para o meu gosto.
Estava fraco por falta de nutrição. Estava com muita fome.
Vesti-me, fiz o meu cigarro,meti a minha bolsa á cintura, preparei a minha artística mala, e liguei o ipod.
Saí borda fora.
Tinha resolvido, sem pensar, ir ao café.
Bebi um café depois de ter contado os trocos que tinha na bolsa das moedas e roubei um pacote de açúcar enquanto o empregado se distraia a encher a minha garrafa de água. Saí bruscamente.
Comi o pacote de açúcar e dei 3 goles na água. E acendi outro cigarro.
"Mas eu irei alguma vez aprender?", pensava eu.
O autocarro estava quase cheio, mas a viagem era curta e resolvi ficar de pé. Embora o meu ipod tivesse no máximo, só ouvia a minha pernas a chorar.
Observei a cara de toda a gente e o que faziam. Alguns falavam, outros ouviam música, uns mexiam na mala para guardar o passe e alguns riam.

Ao final de contas, é tudo a mesma base. Vultos, procura, aprisionamento, passagens de tempo a fazer o que mais gostamos e de quem realmente somos. Portanto, sonhar ou estar acordado? Prefiro sonhar. Falo por mim, claro.

RF
05.01.11
02:49AM